No coração verde e pulsante de Minas Gerais, onde montanhas se encontram com rios e estradas de ferro que contam histórias antigas, nasce um projeto que é muito mais do que música — é um encontro com a alma da Zona da Mata.
Liderado pelo músico e pesquisador Marco Antonio Bouquard , natural de Além Paraíba, a Residência Artística "Filhos da Zona da Mata" é uma jornada íntima e coletiva pela memória, tradição e inovação da cultura musical mineira. Este site é o portal para essa vivência: um espaço onde o passado dialoga com o presente, e onde cada som, cada imagem e cada palavra carrega o respiro de uma terra que nunca parou de cantar.
Este projeto foi aprovado e realizado com o apoio da Bolsa Cultural Concedida Pelo Edital LPG 07 – Residência Artística em Artes e Técnicas, do Estado de Minas Gerais.
Um registro sonoro nascido do encontro entre raiz e modernidade. Composto durante a residência, o EP reúne cinco canções que são verdadeiros poemas musicais à Zona da Mata. De "Violeiro da Mata Mineira" , inspirado na poesia de Emanuel Messias, a "Shairon e os Torreões" , um grito da nova geração em conflito com a tradição, cada faixa é fruto de conversas, memórias e paisagens. "Raiz e Horizonte" , "Recanto das Garças" , "Filhos da Mata" são as composições que formam um mosaico sonoro que celebra a identidade regional com profundidade e sensibilidade. Confira abaixo as canções:
(BOUQUARD)
NAS CURVAS DO VALE, O TEMPO SE DOBRA, RUINAS ANTIGAS
O VENTO QUE PASSA, SUSSURRA MEMÓRIAS, NUM PRANTO ANCESTRAL
NO PEITO DA TERRA, A RAIZ SE AGARRA, PROFUNDA CANTIGA
O VERDE CEDEU AO CICLO DOS GRÃOS, SILENCIO PROFUNDO,
O POVO INDO EMBORA, UM RIO ESQUECIDO, VIRARAM-LHE AS COSTAS
REFRÃO
FILHOS DA MATA, HERDEIROS DA HISTÓRIA E IMENSIDÃO
TRILHOS E RIOS, REMETEM MEMÓRIAS DE GLÓRIA E ILUSÃO
BOUQUARD
TER UM LUGAR
ONDE EU POSSA PLANTAR
E COLHER MEU SONHAR
RECOMEÇAR
COM MAIS BRILHO NOS OLHOS
E FORÇA PRAA AMAR
E PERCEBER
QUE A VIDA É MAIOR
COMO UM NOVO AMANHECER
NUNCA SE ESQUEÇA
QUE VOCÊ PODE MAIS
ENTÃO GIRA O MUNDO
AO SEU REDOR
RAIZ QUE ACOLHE O CAMINHO
HORIZONTE MOSTRA UM DESTINO
SEMPRE HÁ UM TEMPO
NÃO É SOBRE CORRER
MAS SEGUIR SEM PARAR
SONHAR NOS TRILHOS
IR ALÉM DO QUE OS OLHOS
CONSEGUEM ENXERGAR
E ENTENDER
AINDA EXISTE HORIZONTE
E RAÍZES VÃO FLORESCER
(BOUQUARDS E B. BITTENCOURT)
SEGUINDO O RIO QUE ABRAÇA O MAR
MEU OLHAR NUM GRITO TENTA ENCONTRAR
PARA ONDE EU VOU
ABRAÇO O RIO QUE ALCANÇA O MAR
LANÇANDO UM CANTO QUERO TE ENCONTRAR
PARA ONDE EU VOU.
BUSCO O TEMPO PRA RECOMEÇAR
PROCURANDO O VENTO QUE MAIS FORTE SOPRAR NO CALOR
FIRMO O PASSO, ME SUSTENTO AO CHÃO
FICO A UM CAMINHO QUE TEM SEMPRE UMA DIREÇÃO
NO HORIZONTE EU VEJO O CAOS
LÁ O RIO CORRE ISSO É NORMAL
VOU NA VERTICAL E ME PERDER
NO HORIZONTE EU VEJO O CAOS
ONDE O RIO CORRE ISSO É NORMAL
VOU NA VERTICAL E ME PERDER
TENHO UM PLANO PRONTO A SE LANÇAR
COM TODOS JUNTOS SOMOS MAIS QUE UM PAR
AONDE QUER QUE EU VOU.
TEMOS TEMPO PRA RECOMEÇAR
PROCURANDO O VENTO QUE MAIS FORTE SOPRAR NO CALOR
FIRMO O PASSO, NÃO SENTINDO O CHÃO
FICO A UM CAMINHO QUE NEM SEMPRE TEM DIREÇÃO
NO HORIZONTE EU VEJO O CAOS
LÁ O RIO CORRE ISSO É NORMAL
VOU NA VERTICAL E ME PERDER
NO HORIZONTE EU VEJO O CAOS
ONDE O RIO CORRE ISSO É NORMAL
VOU NA VERTICAL E ME PERDER
BOUQUARD/ EMANUEL MESSIAS
SER VIOLEIRO NA ZONA DA MATA MINEIRA
É TER TAMBOR DENTRO DO PEITO
OUVIR DA MATA UMA CANÇÃO
E TRANSFORMAR EM SOM PERFEITO
É ECOAR A VOZ DE ANCESTRAIS
DO POVO ANTIGO, DA MEMÓRIA
FAZER DOS CANTOS RITUAIS
E RESISTIR TECENDO A TRAJETÓRIA
SER VIOLEIRO DA ZONA DA MATA MINEIRA
É SER RAIZ, VOZ E MEMÓRIA
É VIOLA QUE NUNCA SE CALA
É SER RAIZ, VOZ E MEMÓRIA
FAZENDO ARTE, ESCREVENDO HISTÓRIA
SER VIOLEIRO NA ZONA DA MATA MINEIRA
É TRANSFORMAR VIDA EM CANÇÃO
TRAZER DO PEITO UMA SAUDADE
QUE CANTA A ALMA E A TRADIÇÃO
É LEMBRAR DE QUEM JÁ SE FOI
DAR VOZ À TERRA, AO ESQUECIDO
E SEMEAR UM AMOR QUE SURGIU
AO SOM QUE VIBRA PLENO E VIVO
SER VIOLEIRO DA ZONA DA MATA MINEIRA
É SER RAIZ, VOZ E MEMÓRIA
É VIOLA QUE NUNCA SE CALA
É SER RAIZ, VOZ E MEMÓRIA
FAZENDO ARTE, ESCREVENDO HISTÓRIA
BOUQUARD
SHAIRON…, SHAIRON…
MAIS DE DEZ HORAS POR DIA
SEMPRE A MESMA CORRERIA, SEM TEMPO PARA UTOPIA
TRABALHO, IMPOSTO, META, TODO TIPO DE PRESSÃO
CLT, EMPREENDER — SERÁ TUDO ILUSÃO?
E ASSIM O TEMPO VAI, E O TELEFONE A GRITAR
MUITO CAFÉ NA VEIA, E A CABEÇA A GIRAR
MIL BOLETOS VENCENDO NA PALMA DA MÃO
MAIS UM POST SEM CURTIDA, E AS REDES SEM RAZÃO
REFRÃO
O ROCK VIROU TRILHA DE TIOZÃO
CAMISETA PRETA, POSE, PURA OSTENTAÇÃO
PODEM FICAR COM SUA FESTA DE CARETAS
MINHA GUITARRA ESPERA EM SILÊNCIO
MAS O MEU GRITO DISPARA
AQUI ROÇA O MEDO BROTA, SANGRA SEM FACÃO
POUCO MAIS DE TRINTA MIL, MAIS UM CORPO PELO CHÃO
O SISTEMA ENGOLE O POVO AFLITO E CANSADO
HORIZONTE RAREFEITO, FUTURO OFUSCADO.
A CIDADE É HOSPITALEIRA, MAS TUDO DÓI
PROMESSAS DE PALCO NÃO CONSTROEM HERÓIS
TORREÕES RUINDO, A FERROVIA É PÓ
SAUDADE DE UM TEMPO QUE NÃO CHEGOU A NÓS
REFRÃO
O ROCK VIROU TRILHA DE TIOZÃO
CAMISETA PRETA, POSE, PURA OSTENTAÇÃO
PODEM FICAR COM SUA FESTA DE CARETAS
MINHA GUITARRA ESPERA EM SILÊNCIO
MAS O MEU GRITO DISPARA
SHAIRON…
QUANDO ERA CRIANÇA, CANTAVA UM FALSO INGLÊS
SHAIRON UM GRITO OCULTO, “F” EM FORMA DE CANÇÃO
UM CÓDIGO SECRETO CONTRA A MANIPULAÇÃO
OU O RETRATO DE MINHA ALIENAÇÃO X 3
Nesta seção, você vai ouvir vozes que carregam nas palavras e nas memórias o pulsar da Zona da Mata. São artistas, mestres e criadores que, ao longo de décadas, sustentam viva a chama da cultura e música regional — muitas vezes em silêncio, sempre com paixão.
São depoimentos que falam do peso do violão como símbolo de identidade, da força das tradições que ecoam nas ruas e nas festas de comunidade, e da influência de movimentos musicais que, mesmo distantes no tempo, ainda tocam o presente. Outros refletem sobre os desafios do fazer artístico hoje: a luta por reconhecimento, a pressão para se adaptar a formatos que nem sempre respeitam a proteção, e o constante equilíbrio entre sobreviver e continuar criando com verdade.
Você vai encontrar quem vê na arte e música uma herança viva, feita de raízes afro-brasileiras, indígenas e europeias, e quem entende o canto e o tambor como formas de resistência e memória. Há quem fale da importância dos corais, das rodas de seresta, dos ensaios em salas modestas, e de como a educação musical pode abrir portas para novas gerações.
Também aqui aqueles que guardam o passado com carinho: colecionadores de histórias, imagens e momentos que mostram como a música sempre esteve presente — mesmo quando ninguém estava prestando atenção. Suas lembranças revelaram um tempo em que os festivais enchiam praças, os instrumentos improvisados tinham o mesmo valor que os de marca, e cada apresentação era um ato de amor à terra.
Essas vozes, juntas, formam um coro: um painel vivo de resistência, sensibilidade e compromisso com a arte. Não são apenas testemunhas do que foi — são protagonistas do que ainda pode ser. Ouvir cada um deles é como caminhar por uma trilha sonora da Zona da Mata, onde cada depoimento é uma nota de uma canção maior: a da identidade coletiva, feita de memória, coragem e beleza.
1️- QUAL É O SEU NOME COMPLETO E, SE TIVER, O NOME ARTÍSTICO QUE VOCÊ UTILIZA?
Roberto Tadeu dos Santos pseudônimo: Beto do Aurino.
2️-EM QUAL CIDADE VOCÊ VIVE ATUALMENTE?
Além Paraíba – MG, foi em 1985 ou 1986 a música 'CANTO TORTO " representou a faculdade Além Paraíba,no Festival Universitário do Rio de Janeiro, realizado na concha acústica da UERJ.
3️-NA SUA VISÃO, QUAIS RITMOS, INSTRUMENTOS OU TRADIÇÕES VOCÊ CONSIDERA MAIS AUTÊNTICOS E VIVOS NA CULTURA MUSICAL DA ZONA DA MATA MINEIRA?
Instrumento é o violão. No conservatório de Leopoldina é o instrumento com mais alunos. Acho que o Clube da esquina e seus integrantes, apesar do tempo, ainda tem muita influência musical em nossa região. A folia de Reis é uma tradição distintiva da Zona da Mata mineira.
4️-QUAIS VOCÊ ACREDITA SEREM OS MAIORES DESAFIOS PARA MANTER VIVA E AO MESMO TEMPO RENOVAR A MÚSICA TRADICIONAL DA NOSSA REGIÃO?
Acredito que um local onde músicos, compositores, intérpretes etc... Pudessem fazer mostras de música e até resgatar os festivais de música dos anos 80, seria uma maneira de revigorar a música em nossa região.
1️-QUAL É O SEU NOME COMPLETO E, SE TIVER, O NOME ARTÍSTICO QUE VOCÊ UTILIZA?
Carlos Torres Moura, uso Carlos T. Moura para as minhas produções
2️-EM QUAL CIDADE VOCÊ VIVE ATUALMENTE?
Vivo atualmente em Juiz de Fora, mas com ligações ainda com Além Paraíba.
03-PODERIA COMPARTILHAR UMA LEMBRANÇA MARCANTE DA SUA INFÂNCIA OU JUVENTUDE QUE ENVOLVA MÚSICA EM SUA CIDADE OU COMUNIDADE?
Não tenho lembrança marcante em música no período em que morei em Além Paraíba (cerca de 54 anos). Quando jovem, entre os 16 e os 23 anos, fui compositor em minha cidade natal (Cataguases-MG), onde compus algumas canções, a maior parte delas como letrista. Participei de dois festivais naquela cidade (em 1968 e 1969) e em Juiz de Fora (em 1973).
3️-NA SUA VISÃO, QUAIS RITMOS, INSTRUMENTOS OU TRADIÇÕES VOCÊ CONSIDERA MAIS AUTÊNTICOS E VIVOS NA CULTURA MUSICAL DA ZONA DA MATA MINEIRA?
A única coisa ligada à tradição folclórica/musical que posso citar na Zona da Mata são as folias de reis, características também em outras regiões do País.
4️-QUAIS VOCÊ ACREDITA SEREM OS MAIORES DESAFIOS PARA MANTER VIVA E AO MESMO TEMPO RENOVAR A MÚSICA TRADICIONAL DA NOSSA REGIÃO?
Lamentavelmente não sei responder a essa questão, não acompanho o movimento, os artistas ou os eventos musicais da nossa região.
1️-QUAL É O SEU NOME COMPLETO E, SE TIVER, O NOME ARTÍSTICO QUE VOCÊ UTILIZA?
Nos trabalhos em grupo, Edson Leão. No meu álbum solo assinei Edson Leão Ferenzini.
2️-EM QUAL CIDADE VOCÊ VIVE ATUALMENTE?
Juiz de Fora. Na minha infância as principais lembranças são dos excelentes sambas enredos das escolas juizforanas dos anos 70. Da adolescência uma rica cena autoral remanescente da MPB 70 e dos festivais que a cidade sediou. Na juventude, os anos heróricos de formação de uma cena rock com poucos recursos e espaços , mas muito focada no autoral (punk, hard rock, progressivo, metal, post punk).
3️-NA SUA VISÃO, QUAIS RITMOS, INSTRUMENTOS OU TRADIÇÕES VOCÊ CONSIDERA MAIS AUTÊNTICOS E VIVOS NA CULTURA MUSICAL DA ZONA DA MATA MINEIRA?
Samba, choro, jazz, bandas de música (formaram muitos músicos), e nas últimas 4 décadas, rock tem provado sua capacidade de sobreviver mesmo quando fora dos holofotes do grande mercado (incluo aqui também o blues, por ser uma das fontes do rock). Não entro aqui no campo dos genêros que estão no topo do mercado hoje, pois pra mim o que prova, o carater efetivo de uma tradição musical, é a capacidade dela sobreviver mesmo fora dos períodos de intensa exposição e investimentos.
4️-QUAIS VOCÊ ACREDITA SEREM OS MAIORES DESAFIOS PARA MANTER VIVA E AO MESMO TEMPO RENOVAR A MÚSICA TRADICIONAL DA NOSSA REGIÃO?
Capacidade de diálogo com as novas gerações e de propiciar para as mesmas, o acesso a uma diversidade maior de informação musical, para além das tendências de mercado. Promover eventos públicos que conjuguem novos grupos e artistas e grupos e artistas veterenos e que preservem tradições.
Atribuir às instituições públicas de ensino, a atribuição de também serem espaços de divulgação das manifestações músicais que estejam fora do foco de atenção do grande mercado. Editais que viabilizem a circulação (devidamente remunerada) de artistas e grupos alternativos.
1️-QUAL É O SEU NOME COMPLETO E, SE TIVER, O NOME ARTÍSTICO QUE VOCÊ UTILIZA?
Emanuel Messias Mariquito - Emanuel Messias
2️- EM QUAL CIDADE VOCÊ VIVE ATUALMENTE?
CATAGUASES MG - Uma crônica:
ELE VEIO SEM MUITA CONVERSA E SEM MUITO EXPLICAR: Quando Chico Buarque chegou ao Brasil em 1970, do seu autoexílio na Itália, devido à crescente repressão do regime militar do Brasil nos chamados "anos de chumbo", Vinícius de Moraes assim disse ao Chico: Venha! Mas venha fazendo barulho, a coisa aqui tá preta.
Em 1971, Chico lança o LP Construção e então se juntou ao Conjunto MPB 4 e começou a fazer diversos shows pelo Brasil e Cataguases, cidade onde Chico fez parte dos seus estudos em 1959, foi uma das cidades escolhidas. O show aconteceu no Cine Teatro Edgard.
Devido a grandes anúncios e propagandas do show, comecei então interessar em ouvir as canções deste artista. Eram canções que falavam de sentimentos universais que nunca saem de moda - amor, saudade, amizade, angústia, políticas, etc., mas também sobre realidades que persistem.
Tinha eu meus 12 para 13 anos de idade, morava no Largo do Rosário, já considerado o centro de uma cidade crescendo em movimento e gostava de ouvir músicas no rádio de pilha que tinha em nossa casa. Os cartazes colados nos postes anunciavam o show. O show de um artista que se consagrou com a música A Banda, grande vencedora do festival de música nos anos sessenta e eu ficava fascinado só de imaginar como seria um show desse artista. Entusiasmando comentei com minha mãe, mas rapidamente percebi que seria impossível ir. Os ingressos eram caros e minha mãe não tinha condições de comprar, até porque eu era menor de idade e o show parecia ser censurado.
Durante o dia do show, pela Rádio Cataguases, podíamos ouvir as músicas do Chico Buarque no nosso velho rádio de pilha que ficava em cima da mesa da sala de jantar de nossa casa, onde deixava me levar pelas músicas que ecoavam no ar. Por um momento era como se estivesse vivendo aquele show na plateia, rodeado de fãs e embalado pela energia do show.
Embora nunca tivesse visto um artista em pessoa, minha mãe vendo o meu entusiasmo comprou para mim uma modinha, uma revistinha que tinha as músicas do Chico e eu afinal, mesmo sem ter estado no Cine Edgard naquela noite mágica, senti-me conectado ao talento de Chico Buarque e passei a ser mais um de seus fãs, como se a música dele tivesse o poder de me aproximar do artista.
E assim, esse meu interesse pelo Chico Buarque me mostrou que, às vezes, basta um coração cheio de esperança para transformar a ausência num momento inesquecível.
Essa crônica acima faz parte do meu livro O MENINO DO LARGO DO ROSÁRIO - a ser lançado em breve.
3️-NA SUA VISÃO, QUAIS RITMOS, INSTRUMENTOS OU TRADIÇÕES VOCÊ CONSIDERA MAIS AUTÊNTICOS E VIVOS NA CULTURA MUSICAL DA ZONA DA MATA MINEIRA?
A Zona da Mata Mineira pulsa com uma musicalidade rica e autêntica, herança viva de suas raízes afro-brasileiras, indígenas e europeias. Entre os ritmos mais marcantes está o congado, expressão de fé e resistência, onde tambores, caixas e guizos conduzem os cortejos coloridos em louvor aos santos. O batuque também ecoa nas festas e encontros, com danças de roda e cantos que atravessam gerações. Instrumentos como a viola caipira, o tambor de folia e a sanfona são companheiros inseparáveis das folias de reis e dos encontros de violeiros. Mais que tradição, a música na Zona da Mata é linguagem de comunidade, identidade e memória, essa é a minha opinião e o que posso falar sobre a pergunta.
4️-QUAIS VOCÊ ACREDITA SEREM OS MAIORES DESAFIOS PARA MANTER VIVA E AO MESMO TEMPO RENOVAR A MÚSICA TRADICIONAL DA NOSSA REGIÃO?
Os maiores desafios para manter viva — e ao mesmo tempo renovar — a música tradicional da Zona da Mata Mineira estão, principalmente, na tensão entre o passado e o presente. De um lado, há o risco do esquecimento: o envelhecimento dos mestres das tradições, a falta de registro das cantigas, dos toques e dos saberes passados de boca em boca, de corpo a corpo. De outro, existe o desafio da reinvenção: como dialogar com as novas gerações sem descaracterizar o que torna essa música única?
A urbanização, a migração dos jovens para os grandes centros e a hegemonia da cultura de massa também contribuem para silenciar os tambores, as violas e os cantos das festas populares. A tecnologia, paradoxalmente, pode ser ameaça e aliada: ao mesmo tempo que homogeneíza gostos, permite gravar, arquivar e difundir as expressões locais para o mundo.
Por isso, talvez o maior desafio seja esse: criar pontes. Entre o ontem e o hoje. Entre a roda da folia e o palco moderno. Entre o saber dos mais velhos e a curiosidade dos mais novos. E mostrar que a tradição não precisa ser repetição: ela pode ser reinvenção com raiz.
1️-QUAL É O SEU NOME COMPLETO E, SE TIVER, O NOME ARTÍSTICO QUE VOCÊ UTILIZA?
Fabrício Manca de Souza, Nome artístico, Sapin
2️-EM QUAL CIDADE VOCÊ VIVE ATUALMENTE? PODERIA COMPARTILHAR UMA LEMBRANÇA MARCANTE DA SUA INFÂNCIA OU JUVENTUDE QUE ENVOLVA MÚSICA EM SUA CIDADE OU COMUNIDADE?
Leopoldina-MG
Na verdade não foi em minha cidade à princípio. Foi sim, representando os Correios de Cataguases-MG, na cidade de Ouro Preto em 2010, com a música “Nossa Senhora do Sertão”, onde tive uma surpresa inesperada, que foi a presença de meus Irmãos, Marcelo Manca e Luciana Manca. Tive também a felicidade de ser agraciado com as premiações de primeiro lugar música inédita e prêmio de melhor intérprete.
No ano seguinte, 2011 em Piacatuba (distrito de Leopoldina) com a mesma música tivemos a honra de conquistar o Segundo lugar no 9º festival de viola e gastronomia de Piacatuba. Ainda no mesmo ano a composição “Nossa Senhora do Sertão” teve a graça de ser premiada com o Terceiro lugar no Festival SESI de música em Belo Horizonte. Essa música foi muito importante em minha vida enquanto músico, porque através dela, muitas outras oportunidades vieram depois.
3️-NA SUA VISÃO, QUAIS RITMOS, INSTRUMENTOS OU TRADIÇÕES VOCÊ CONSIDERA MAIS AUTÊNTICOS E VIVOS NA CULTURA MUSICAL DA ZONA DA MATA MINEIRA?
Fico muito orgulhoso em poder representar um pouco da característica da música em nossa região. Eu particularmente, enfatizo o rock (e suas vertentes), as canções de cunho regional e a fusão de ritmos e elementos instrumentais, que através de suas nuances, muitas das vezes por si, caracterizam a poli estilização em nossa região, gerando esse enriquecimento cultural e coletivo que nos alimenta essa fome de Arte.
4️-QUAIS VOCÊ ACREDITA SEREM OS MAIORES DESAFIOS PARA MANTER VIVA E AO MESMO TEMPO RENOVAR A MÚSICA TRADICIONAL DA NOSSA REGIÃO?
A falta de incentivo midiático e financeiro, vem afetando muito a característica do Músico, não só em nossa região, me atrevo a dizer que seja em âmbito nacional. O que força por muitas vezes o Músico a renunciar à sua identidade musical para assumir outra. Vejo muitos músicos profissionais obrigados a renderem-se à outra identidade musical em troca de sobrevivência social. Nunca da minha parte fazer pouco de outros estilos, respeito todos e acredito que poderia haver espaço para todos, mas nem sempre é o que acontece. Mas entristece-me demasiadamente, ver muitos músicos abrindo mão de seus sonhos artísticos para poderem sobreviver, tocando gêneros dissonantes à sua Natureza.
1️- QUAL É O SEU NOME COMPLETO E, SE TIVER, O NOME ARTÍSTICO QUE VOCÊ UTILIZA?
Meu nome completo é Pedro Augusto Rocha Costa e, como nome artístico, utilizo Pedro Rocha.
2️- EM QUAL CIDADE VOCÊ VIVE ATUALMENTE? PODERIA COMPARTILHAR UMA LEMBRANÇA MARCANTE DA SUA INFÂNCIA OU JUVENTUDE QUE ENVOLVA MÚSICA EM SUA CIDADE OU COMUNIDADE?
Atualmente, vivo na cidade de Além Paraíba, em Minas Gerais. Uma lembrança muito marcante da minha juventude envolvendo música foi minha participação no Canto Coral durante a década de 1980. Estudava na Escola Estadual São José e cursava o 7º ano. Os ensaios do coral aconteciam todas as quintas-feiras, coincidindo com duas aulas de matemática — e, confesso, eu sempre optava pelos ensaios. Acabei sendo reprovado naquele ano, mas não me arrependo: foi uma das experiências mais transformadoras da minha vida. Participamos de encontros de corais em várias cidades, como Rio de Janeiro, Cabo Frio e Teresópolis, além de apresentações em muitos casamentos.
Um dos momentos mais marcantes foi quando fui solista na “Ave Maria” de Gounod — minha voz, barítono atenorado, acompanhada por piano, fez a Igreja silenciar. Foi inesquecível e profundamente emocionante. Essa vivência me impulsionou a seguir o caminho da música. Em 2019, concluí a graduação em Educação Musical pela UNIMES – Universidade Metropolitana de Santos.
Em 2024, finalizei o curso de Violão Clássico no Conservatório Estadual de Música Lia Salgado, em Leopoldina. Atualmente, continuo minha formação em Canto Lírico e Piano também no Conservatório Lia Salgado, além de estar matriculado no curso de Musicoterapia pelo Instituto Graduale.
Sou professor de música em duas escolas, com foco no canto coral, e atuo em dois projetos sociais: o coro adulto da ONG TrupEncanta e o coro infantojuvenil do Pró- Criança.
Também sou professor de violão e teclado nas Oficinas Além, da Prefeitura Municipal de Além Paraíba, onde atuo como regente da Camerata Experimental de Violão e Teclado.
Além disso, coordeno o projeto de música na APAE de Além Paraíba, promovendo inclusão social por meio da prática musical com violão, teclado, flauta, canto coral e percussão.
A música, que começou como paixão na juventude, tornou-se meu ofício, minha missão e meu instrumento de transformação social.
3️ NA SUA VISÃO, QUAIS RITMOS, INSTRUMENTOS OU TRADIÇÕES VOCÊ CONSIDERA MAIS AUTÊNTICOS E VIVOS NA CULTURA MUSICAL DA ZONA DA MATA MINEIRA?
Na minha visão, a cultura musical da Zona da Mata Mineira é profundamente autêntica e viva, marcada por uma diversidade de ritmos, instrumentos e tradições que dialogam entre o erudito e o popular, o ancestral e o contemporâneo. Um dos pilares dessa identidade são as bandas civis, que há décadas desempenham um papel fundamental na formação musical das comunidades, com seus conjuntos de instrumentos de sopro e percussão, presentes em desfiles, festas religiosas, eventos cívicos e culturais. Elas representam uma tradição de ensino coletivo, disciplina musical e valorização da música instrumental.
Outro traço marcante são as manifestações percussivas, especialmente durante o Carnaval, com a presença de escolas de samba, blocos carnavalescos e grupos de percussão que animam as ruas com ritmos envolventes, resgatando saberes afro- brasileiros e criando espaços de expressão e resistência cultural.
Também é comum encontrar grupos de pagode e samba que mantêm viva essa tradição nos bairros e periferias, promovendo encontros comunitários cheios de musicalidade. A região também abriga uma cena musical urbana diversa, com bandas de pop, rock, MPB e gospel, que surgem em garagens, igrejas e festivais locais, revelando talentos e conectando as novas gerações ao universo da composição e da performance.
Não posso deixar de destacar o protagonismo do violão solo, muito presente nas rodas de música, nas igrejas, nos bares e nas escolas.
O violão é um instrumento símbolo da musicalidade brasileira e, na Zona da Mata, tem um papel afetivo e pedagógico muito forte — seja como ferramenta de iniciação musical, seja como expressão artística individual.
Essa pluralidade é a grande força da nossa região. A Zona da Mata pulsa musicalmente porque acolhe múltiplas vozes, estilos e tradições, mantendo viva sua herança cultural e, ao mesmo tempo, aberta à inovação e à criação coletiva.
4️ QUAIS VOCÊ ACREDITA SEREM OS MAIORES DESAFIOS PARA MANTER VIVA E AO MESMO TEMPO RENOVAR A MÚSICA TRADICIONAL DA NOSSA REGIÃO?
Acredito que o maior desafio para manter viva e, ao mesmo tempo, renovar a música tradicional da nossa região está, sem dúvida, na falta de recursos financeiros.
A Zona da Mata Mineira possui uma riqueza imensa de talentos — músicos excepcionais, mestres da tradição, grupos culturais dedicados — mas, infelizmente, muitos desses agentes enfrentam grandes dificuldades para sustentar e dar continuidade ao seu trabalho.
Manter um grupo musical ativo exige investimento constante: aquisição e manutenção de instrumentos, figurinos, sonorização, transporte, alimentação durante apresentações, entre outros custos.
Além disso, é fundamental garantir a remuneração justa dos profissionais envolvidos — tanto os artistas quanto os educadores e produtores culturais que muitas vezes atuam de forma voluntária por amor à cultura, mas que também precisam de dignidade e reconhecimento.
Outro desafio é o acesso a políticas públicas de fomento, que muitas vezes são centralizadas, burocráticas e pouco sensíveis às realidades das pequenas cidades e comunidades periféricas.
Falta uma estrutura de apoio contínuo, com editais acessíveis, programas de formação e incentivos à pesquisa e à criação musical baseada nas tradições locais.
Além disso, há o desafio da valorização simbólica da música tradicional frente à massificação da cultura de consumo.
É preciso criar espaços onde essas expressões sejam visibilizadas e respeitadas, especialmente entre os mais jovens, promovendo encontros entre o tradicional e o contemporâneo.
A renovação da música tradicional só é possível se houver diálogo intergeracional, onde os saberes dos mestres se conectam com a criatividade das novas gerações.
Portanto, manter viva e renovar nossa música tradicional exige investimento financeiro, políticas culturais consistentes, respeito aos mestres da cultura, e espaços permanentes de formação, criação e fruição artística. Com isso, nossa identidade musical não apenas se preserva, mas floresce e se transforma com o tempo.
Uma das marcas mais profundas deste projeto é a memória que se faz imagem.
Nesta exposição virtual, você vai adentrar um universo onde o tempo parece parar para contar histórias. São fotografias que respiram sentimentos, capturadas tanto durante minhas andanças pela Zona da Mata quanto em meio a acervos que guardam décadas de vida cultural.
Cada foto é um fragmento de alma: rostos iluminados sob a luz fracassados de um palco improvisado, pés batendo no chão em ritmo de folia, mãos seguras instrumentos com o carinho de quem segura um filho. Há registros de rodas de música, de ensaios, apresentações em praças onde o público é feito de vizinhos, crianças e velhos que já viram muitas estações passarem.
Parte dessas imagens vem de um olhar atento que atravessou gerações — um arquivo vivo, feito de momentos em que a música era comemorada, resistência e encontro. Outras nasceram do meu próprio percurso: cliques espontâneos durante conversas, gravações, caminhadas à beira do rio, encontros com mestres cujas vozes carregam o peso da tradição e a leveza da inspiração.
Juntas,essas fotos não apenas documentam. Eles convocaram. Convocam à lembrança. Convoque o afeto. Convocar à continuidade.
São provas silenciosas de que, aqui, a arte nunca foi elitista — nasceu nas ruas, cresceu nas casas, pulsou nos corações. E agora, neste espaço, ganhe novo fôlego, convidando você a ver com mais ternura a terra que nos criou.
"Filhos da Zona da Mata" não é um ponto final. É uma vírgula. Um convite para ouvir, ver, sentir e continuar a tradição. Aqui, a música não é apenas nos alto-falantes — está nas ruas, nos rios, nos tambores, nas vozes dos mais velhos e nos olhos curiosos dos mais jovens.
Explore, escute, emocione-se.
Você está entrando na terra que respira música.